O sol e o mar combinam mesmo tão
distantes, se encontram em certo ponto, se relacionam. Esse tipo de relação
atrai Yasmin, que mesmo sempre tão distraída, se fazia de atenta em diversas
situações, mas poucos percebiam isso.
Vamos falar dos muitos que não percebiam,
começando por seu namorado Tiago, um folgado que nunca começa nada. Passando
por sua melhor amiga, Karla, que nunca tem tempo pra uma conversa onde ela
escute o que o outro fala. Não podemos deixar de falar da irmã, que na verdade
é um assunto que eu não domino, não lembro se é Lívia, Lígia ou Lúcia, Yasmin
me falou apenas uma vez sobre ela, e foi um daqueles assuntos aleatórios que
não grudam na memória. Ok. Vamos aos pais, que são como dois países, que não
combinam, apesar de toda a proximidade geográfica, não se encontram em nenhum
ponto, simplesmente não se relacionam. Esse tipo de (dês) relação, ou melhor,
essa (dês) relação especifica, deixa Yasmin alterada, aflita, encorajada a
morrer de amor. Afinal, até então nunca de fato foi amada.
A beleza de Yasmin era
consensual, ninguém discordava sobre isso. Não eram apenas os olhos azuis, os
quase sempre alvoroçados cabelos longos e negros ou a pele viva, colorida com
desenhos de bonecos engraçados e todas aquelas frases, uma tatuagem para cada
fase. Yasmin sentia-se atraída pelo sol e pelo mar, mas se identificava bem
mais com a lua, cheia de falhas, cheia de fases, incontestavelmente linda. Tão
bela e tão menosprezada. Nem todo mundo tinha coragem de trocar olhares com
Yasmin, que tinha o dom de intimidar com seu intenso olhar. Ela treinava no
espelho, se constrangendo, sendo refém de si mesma, até chegar ao ponto de não
conseguir se encarar.
Yasmin tinha enorme facilidade de
se expressar, mas só nas páginas dos seus diários. Rabiscos e trechos de poemas
que a refletiam. Ela era um verdadeiro abismo interno, ecoava todas as coisas
que já sabia. Reprises. Isso, Yasmin amava reprises. Canções que se repetiam
situações semelhantes, filmes antigos, fotografias gastas. Na verdade, ela
tinha certo pavor a novidades. Ela era acomodada. Não via motivos em perder
tempo com coisas novas, coisas que poderiam muito bem não dar em nada.
Por fim, enfim, talvez seja esse
o fim. Aqui quem fala é seu amor, Yasmin. Seu amor em forma bruta, àquele que
não pode ser entregue a alguém, sem ser o amor próprio. Eu sou o seu amor, não
seu amor às cores e coisas. Na verdade, acho que não posso ser classificado como
um amor a isso ou a aquilo. Pensando melhor, eu sou só uma ideia do que deveria
ser o amor pra você. Sim, eu sou o que você gostaria de sentir. Sou o que você supõe
o que pode vir a acontecer. Não sei em que ponto a gente se encontrou, não sei
se foi você que me criou, não sei de onde eu vim. Só sei que a gente se
esbarrou, meio que sem querer, daquele jeito desajeitado e tumultuado, você
nunca mais parou de me procurar. Isso pra mim é o fim da picada, sinceramente,
uma palhaçada. Eu xingo o destino e berro o seu nome, mas você não me escuta.
Porque você não me escuta, Yasmin? Eu estou na sua frente, mas você está de
costas pra mim, olhando sempre para o passado. Se arrisque a olhar para frente,
dê uma chance ao novo, venha me encontrar mais uma vez. Termine de me inventar,
me explique um pouco mais sobre mim, me molde, me recrie. Yasmin deixe eu te
salvar, venha me salvar.
Meu xodó muito bem retratado =))
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