domingo, 3 de março de 2013

O dia em que ele não acordou

Acordei mais tarde, perdi a hora. Tontura, eu não deveria ter bebido, pensei. Sempre penso depois, sempre penso.  Pausa, calma, respira, passou. Não era bem uma tontura, nem uma angustia, é que tá sobrando ar lá fora. Então eu levantei, e fui respirar todo esse ar sujo, ou aquele. O ar de Lá, é mais sujo, é o que dizem. As pessoas falam demais, eu acho, eu sempre falo. Estamos em desequilíbrio, estávamos ou melhor, ao contrário. A desordem que é a vida, já parou pra pensar? Já parou para viver? Não se pode parar para viver, sem parar de viver. Essa vida sempre inacabada, sempre acabável. O café estava tão gostoso, mas eu não tomei café, eu peguei um suco cor de céu, cor de rosa, e não bebi. Lá fora tá sol, mas não dá pra ver o sol, todo mundo de preto, menos eu, menos um monte de gente. Que ambiente limpo, apesar do meio, sem pensar nos termos. De repente o mundo caiu, até mesmo pra mim, que estava voando, faltou o chão. E a gente caiu com o mundo, o mundo caiu com a gente, e o equilíbrio? Ela chorou tão forte, que me doeu a alma. Ela gritou relativamente baixo, ecoando todos os quarteirões dessa cidade que nunca para. Eu quis que a vida parasse ali, mas à alguns minutos atrás. Eu quis de novo a paz, e o equilíbrio que a gente nunca encontra no mundo, na vida, nem nas coisas. Eu, pelo menos, não quis estar ali, mesmo sem ter a menor ideia de onde queria estar. Ele não acordou, e todo o ar do mundo não foi o suficiente. Ela chorou um pranto sofrido, um pranto tão molhado, que nem um vendaval secaria, que nem um carnaval em agosto, acabaria com tanto desgosto. Ele dormiu para sempre, assim como deveria ser o amor, porém acordado. Toda a saudade que pode haver na décima quarta linha, à incontáveis ruas de casa. Será que eu contei direito? "Acho que eu nunca te disse o quanto gosto daquela sua camisa azul, nem de como me sinto bem quando você me chama daquele jeito, ou o quanto me sinto em casa estando contigo. E agora como eu faço para colocar a ultima frase no passado, sem que todos os 2 de março, daqui pra frente, percam a cor?" Então eu chorei, então eu quis que todo o ar do mundo pudesse ser o suficiente para ele, outra vez. Eu quis abraça-la com toda a força que houvesse em mim, machucar a dor, oprimir o horror. Mas só consegui chorar, não querendo estar ali, sem saber onde queria estar. Nesse dia Ele não acordou, e Ela não dormiu. Nem eu, muito bem.

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