Acordei
mais tarde, perdi a hora. Tontura, eu não deveria ter bebido, pensei.
Sempre penso depois, sempre penso. Pausa, calma, respira, passou. Não
era bem uma tontura, nem uma angustia, é que tá sobrando ar lá fora.
Então eu levantei, e fui respirar todo esse ar sujo, ou aquele. O ar de
Lá, é mais sujo, é o que dizem. As pessoas falam demais, eu acho, eu
sempre falo. Estamos em desequilíbrio, estávamos ou melhor, ao
contrário. A desordem que é a vida, já parou pra pensar? Já parou para
viver? Não se pode parar para viver, sem parar de viver. Essa vida
sempre inacabada, sempre acabável. O café estava tão gostoso, mas eu não
tomei café, eu peguei um suco cor de céu, cor de rosa, e não bebi. Lá
fora tá sol, mas não dá pra ver o sol, todo mundo de preto, menos eu,
menos um monte de gente. Que ambiente limpo, apesar do meio, sem pensar
nos termos. De repente o mundo caiu, até mesmo pra mim, que estava
voando, faltou o chão. E a gente caiu com o mundo, o mundo caiu com a
gente, e o equilíbrio? Ela chorou tão forte, que me doeu a alma. Ela
gritou relativamente baixo, ecoando todos os quarteirões dessa cidade
que nunca para. Eu quis que a vida parasse ali, mas à alguns minutos
atrás. Eu quis de novo a paz, e o equilíbrio que a gente nunca encontra
no mundo, na vida, nem nas coisas. Eu, pelo menos, não quis estar ali, mesmo
sem ter a menor ideia de onde queria estar. Ele não acordou, e todo o
ar do mundo não foi o suficiente. Ela chorou um pranto sofrido, um
pranto tão molhado, que nem um vendaval secaria, que nem um carnaval em
agosto, acabaria com tanto desgosto. Ele dormiu para sempre, assim como
deveria ser o amor, porém acordado.
Toda a saudade que pode haver na décima quarta linha, à incontáveis ruas
de casa. Será que eu contei direito? "Acho que eu nunca te disse o
quanto gosto daquela sua camisa azul, nem de como me sinto bem quando
você me chama daquele jeito, ou o quanto me sinto em casa estando
contigo. E agora como eu faço para colocar a ultima frase no passado,
sem que todos os 2 de março, daqui pra frente, percam a cor?" Então eu
chorei, então eu quis que todo o ar do mundo pudesse ser o suficiente
para ele, outra vez. Eu quis abraça-la com toda a força que houvesse em
mim, machucar a dor, oprimir o horror. Mas só consegui chorar, não
querendo estar ali, sem saber onde queria estar. Nesse dia Ele não acordou, e Ela não dormiu. Nem eu, muito bem.
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