Sinto falta de ter um diário, do hábito de escrever, de
desenhar, rabiscar, reler e rasgar – se for preciso (a sensação de rasgar ou
queimar é incrível, é como apaga por um momento um momento). Anda cada vez mais
difícil pra mim, lidar com as palavras. Por muito tempo pensei que para isso –
talvez só para isso – não haveria tranca, porta, segredo. A escrita era um refúgio,
um lugar seguro onde eu poderia, quiçá, ser Eu. Não posso dizer não mais. Uma
coisa eu aprendi: Não mais, não mais. Sempre ou Nunca = equívoco. Andei
pensando em tudo, e parei querendo não pensar em nada. Tudo ou Nada = equívoco.
Cheguei à conclusão de que tanto oito quanto oitenta, dão merda. Lembrei que “daqui
pra frente tudo vai ser diferente, você vai aprender a ser gente”, e ri. Faz
tempo! Não posso dizer que tudo, nem que nada, mas algo mudou. Do caos à calmaria,
passando por um monte de bobagem, larguei os cigarros. Cortei o cabelo, deixei
crescer. Fiz uma, duas, três tatuagens em doze meses. Coisas irrelevantes,
coisas que nem todo mundo sabe. Não aprendi a ser gente, mas algo mudou. Pensei
que nunca pararia de chorar, parei. Não definitivamente, às vezes choro como se
o mundo fosse acabar. Tentei colocar meu mundo no mudo, mas pra mim, o silêncio
tem som. Acho que no fundo sinto falta de um pouco mais de drama para a escrita,
quantas coisas escrevi aos prantos. Agora pareço estar vivendo em uma grande
festa, com música alta e muita bebida, em um dia daqueles de enfiar o pé na
jaca. Faz de conta que é sábado, horário de verão. A música é aquela que sempre
que toca, dá vontade de dançar. Faz de conta que o copo esteja cheio, e que
sempre que esvazia alguém enche, enche e a bebida nunca acaba. Parece que não
falta mais nada. Parece que esse momento é o tudo que faltava. Mas amanhã é
domingo, e vai chover. E por pior que seja a ressaca, nada vai conseguir
superar a Segunda-feira. Eu me embolei. Ainda assim, a ideia central é: Essa
festa vai acabar. Mesmo que seja a melhor da minha vida, vai acabar. Pode não
parecer, mas eu estou falando de amor, e não de aparências. Ou sim, ou claro! O
amor sempre se mostra para mim como um jogo de aparências, onde quase nunca é o
que parece. Talvez porque eu não demonstre, eu não monte, eu não mostre
escancaradamente tudo. Porque Tudo e Nada são cargas muito pesadas. Talvez por
isso todo esse bloqueio. Ainda é cedo para se lamentar, falta um dia pra
segunda, no domingo eu juro que choro. É que de dentro até dá pra ver minha
euforia, mas não dá pra ouvir que eu to cantando a minha música favorita, o som
tá alto, a festa está no auge, e o que vem depois, infelizmente, é o declínio –
fim. No fundo, foda-se, nem faço questão de ser gente grande mesmo. Eu compro
um caderno novo, e taco fogo nele inteiro, se der merda outra vez.
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