segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Ponto (de vista)

Eu sinto saudades de uma fase da minha vida que não volta mais. Quem não? Quem nunca? Eu não consigo escrever, isso é angustiante. Tenho deixado de lado várias coisas que eu gosto de fazer, para não fazer nada. O ano só parece começar pra mim a partir do mês de maio. Quase 21, e isso não me desespera, não me dá ansiedade, felicidade, esperança, desespero, nada. Um grande problema que eu tenho é: generalizar. Já falei sobre isso. Com o tempo as coisas se tornam tão menores, ou maiores, depende do ponto de vista. Às vezes eu sinto o gosto do cigarro, é como se eu estivesse tragando, a fumaça entre pela minha boca, caminha pela minha garganta lentamente, se instala em meus pulmões momentaneamente e volta - indo embora pelo mesmo lugar que entrou, ou não, às vezes ela saí pelo nariz. Meu coração sempre dispara nessa hora. É como um amor proibido, como amar a mulher do seu melhor amigo, ou o seu pior inimigo. E pensar constantemente sobre isso, sem se dar conta. É um para e respira, arruma o cabelo, olha pro lado, muda de assunto, bate o pé, olha o relógio 4h20min. Ser irônico devia ser crime. Tenho sentido vontade de chorar, penso sobre isso constantemente, algumas vezes choro. Nunca o suficiente. Eu queria sentar e chorar por uma hora ou mais. Apenas sentar e chorar. Até que o nariz entupa, que os olhos se avermelhem irritados, até que o sono venha, que o nariz escorra, ate que a respiração se altere e se recomponha repetidamente, que o sono venha. Eu queria saber melhor o que eu estou fazendo agora, com o que estou lidando. Eu sinto saudade de uma época em que eu não fazia a menor ideia do que eu estava fazendo, não sei como cheguei até aqui. Ainda não sei de nada. E isso me dá tontura. Parece que estou no mesmo ponto há tempos, rodopiando.

terça-feira, 25 de março de 2014

Um diário, um delírio

Sinto falta de ter um diário, do hábito de escrever, de desenhar, rabiscar, reler e rasgar – se for preciso (a sensação de rasgar ou queimar é incrível, é como apaga por um momento um momento). Anda cada vez mais difícil pra mim, lidar com as palavras. Por muito tempo pensei que para isso – talvez só para isso – não haveria tranca, porta, segredo. A escrita era um refúgio, um lugar seguro onde eu poderia, quiçá, ser Eu. Não posso dizer não mais. Uma coisa eu aprendi: Não mais, não mais. Sempre ou Nunca = equívoco. Andei pensando em tudo, e parei querendo não pensar em nada. Tudo ou Nada = equívoco. Cheguei à conclusão de que tanto oito quanto oitenta, dão merda. Lembrei que “daqui pra frente tudo vai ser diferente, você vai aprender a ser gente”, e ri. Faz tempo! Não posso dizer que tudo, nem que nada, mas algo mudou. Do caos à calmaria, passando por um monte de bobagem, larguei os cigarros. Cortei o cabelo, deixei crescer. Fiz uma, duas, três tatuagens em doze meses. Coisas irrelevantes, coisas que nem todo mundo sabe. Não aprendi a ser gente, mas algo mudou. Pensei que nunca pararia de chorar, parei. Não definitivamente, às vezes choro como se o mundo fosse acabar. Tentei colocar meu mundo no mudo, mas pra mim, o silêncio tem som. Acho que no fundo sinto falta de um pouco mais de drama para a escrita, quantas coisas escrevi aos prantos. Agora pareço estar vivendo em uma grande festa, com música alta e muita bebida, em um dia daqueles de enfiar o pé na jaca. Faz de conta que é sábado, horário de verão. A música é aquela que sempre que toca, dá vontade de dançar. Faz de conta que o copo esteja cheio, e que sempre que esvazia alguém enche, enche e a bebida nunca acaba. Parece que não falta mais nada. Parece que esse momento é o tudo que faltava. Mas amanhã é domingo, e vai chover. E por pior que seja a ressaca, nada vai conseguir superar a Segunda-feira. Eu me embolei. Ainda assim, a ideia central é: Essa festa vai acabar. Mesmo que seja a melhor da minha vida, vai acabar. Pode não parecer, mas eu estou falando de amor, e não de aparências. Ou sim, ou claro! O amor sempre se mostra para mim como um jogo de aparências, onde quase nunca é o que parece. Talvez porque eu não demonstre, eu não monte, eu não mostre escancaradamente tudo. Porque Tudo e Nada são cargas muito pesadas. Talvez por isso todo esse bloqueio. Ainda é cedo para se lamentar, falta um dia pra segunda, no domingo eu juro que choro. É que de dentro até dá pra ver minha euforia, mas não dá pra ouvir que eu to cantando a minha música favorita, o som tá alto, a festa está no auge, e o que vem depois, infelizmente, é o declínio – fim. No fundo, foda-se, nem faço questão de ser gente grande mesmo. Eu compro um caderno novo, e taco fogo nele inteiro, se der merda outra vez.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Como o mundo gira

Um cigarro ou um segundo a mais, que diferença faz, se no final das contas tudo não passa de subtração. O seu perfume me dá dor de cabeça, tontura, coriza, tristeza – quando você não está -. Estou confusa sobre tudo, menos sobre o modo como gosto dessa caneta rasgando o papel assim. Feito como quando você olha pra mim e diz qualquer coisa, enquanto arruma o meu cabelo, que é parte da minha bagunça. A verdade é que eu não tenho (nem sei se quero) uma desculpa para te mandar ir embora. E já que você quer vir, que venha agora. Pois eu tenho mais de 24 horas vazias, sem você. Sentir sono e tomar café não funciona pra mim. Não era isso que eu queria dizer, mas agora eu já disse.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013



Ela se tornou uma mulher
mais bonita do que eu fui capaz de imaginar,
batom vermelho, olhos azuis.
Eu provavelmente nunca serei feliz

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Parte menos um

- Eu não consigo mais conversar com você. Mesmo estando sempre aqui, a maior parte do tempo, me sinto sozinha com a sua presença.
Anabel me disse na nossa penúltima conversa, enquanto eu acendia um cigarro. E tragar, certamente, foi a melhor desculpa para o meu silêncio. Mais um sermão como de costume, pensei. Sempre achei que eu nunca fosse me cansar de todas aquelas coisas, por mais de duas semanas, nem ela. Eu tinha um declínio ao drama, mas o show sempre ficava por conta dela, que dizia todas as coisas que eu supostamente merecia ouvir. Éramos aquilo. Na minha cabeça, não havia nada de errado nisso. Como uma caçamba de caminhão, ela sempre me enchia, nem sempre com o que tinha de melhor. E o amor era isso, não? Em grande parte do tempo: suportar. Eu era um péssimo suporte, nunca houve nada de técnico em mim, sempre fui só fazendo e indo, na maior parte do tempo sem pensar, medir
- Precisamos de um tempo, espero que com ele, você possa aproveitar esse seu mundo imaginário.
E eu ri daquilo. Afinal, o tempo todo ela dizia e fazia de tudo para me tirar de lá, meu mundo. “Você não pode voar”, ela repetia sem parar. Todas as minhas crises existenciais, meus medos de escuro, meus prantos sem motivo. Mas dessa vez foi tragicamente diferente, e eu ri de nervoso, com o estômago em fúria. Uma quebra na minha rotina, como uma ilha no meio do mar, quebrando a harmonia. Ela não tentou me salvar, dessa vez, ela sugeriu um suicídio: Pule! E isso foi um choque, um estalar de dedos. Eu demorei tempo demais para aceitar esse meu lado da moeda, que se sente confortável com o previsível. Na verdade, passei tempo demais tentando seguir uma ideologia que não era minha, ou será que era e agora eu estava sendo outra pessoa
- É sério. Eu não consigo lidar mais com isso. Eu preciso respirar, eu preciso...
- Mas temos um plano!
- Somos muito jovens para vivermos em função disso, existem tantos lugares que quero conhecer
- Eu também quero, com você, inclusive.
- Não me venha com essa, tentando fazer com que eu me sinta culpada por não querer estar em algum lugar com você. Não depois de todas as suas ausências.
- Eu vou embora.
- Tá vendo, você sempre foge!
- Mas não parece que você quer que eu fique. O que você quer que eu faça?!
- Fique presente, e encare o fato de não sermos mais como antes.
Quem éramos antes? Quem eu era antes. Faltou-me o ar. O filme, a banda, o autor – tudo era Anabel. Quem sou eu, afinal? Um pequeno surto, uma lente embaçada. Não consegui entender nada. Não havia um só lugar que eu quisesse estar sem ela. Nenhuma história em minha vida que ela não fizesse parte, ou soubesse. Pequenos detalhes, participando de tudo, impregnada em minha mente. Eu claramente não sou mais quem eu era antes, eu vivia em função dela agora, sabe-se lá há quantas horas.
- Você não pode sair da minha vida assim, não depois de tudo
- Você fala como se isso fosse o fim do mundo, como se “tudo” tivesse tanta importância
- E você faz parecer que nada conta.
- Seu drama não vai funcionar. Por que você nunca aceita a culpa?
- Por que a culpa é minha?
- Eu não aguento mais brigar
Mais uma vez, ela chorou como de costume. Como uma sequência programada de berros, seguidos de prantos. Como um relógio tic tac-ando. Era disso que eu estava falando, a previsibilidade de Anabel. Até na cama ela era assim, calculável. Talvez tenha sido esse o meu mal, minha inabilidade com a matemática. Por mais que tudo aquilo se repetisse, eu nunca conseguia entender o problema.
- Acho que é melhor eu ir
- Mas não volte amanhã, nem depois
- Volto quando então?
- Te ligo dizendo, eu preciso de um tempo
- Eu vou te esperar pra sempre, cê sabe...
Ela me abraçou de maneira tão fria, como se só eu estivesse ali, dessa vez. Não posso dizer que foi naquele momento que a ficha caiu, ainda que as lágrimas estivessem jorrando dos meus olhos. Anabel não estava mais chorando. Os papeis se inverteram. O tempo todo ela estava ali, por mim, em momentos em que nem eu estava. Entendi naquele momento o que os dicionários definem como impotência, ainda que, não conseguisse expressar com palavras aquele sentimento. Talvez, se eu implorasse tudo ficaria bem. Sempre tive muito problema com orgulho, mas esse não era o caso. Não era uma questão de domínio, quem estava com a razão ou não. Não era mais uma discussão boba, sem razão. O mundo fica de cabeça pra baixo, justamente na hora da distração, e a velocidade da volta não importa. Tudo o que você quer é algo ou alguém para se segurar. Se eu sempre procuro você quando estou mal com qualquer coisa, quando estou mal com você, quem eu devo procurar?
- É melhor você ir.
- Eu não posso ficar sem você! Eu não consigo lidar... com a sua ausência... Eu posso tentar... ser mais presente, por você... Não precisa... ser assim, sabe... Eu... Eu já mudei tanta coisa... A gente funciona, cê sabe... Eu
- Você precisa fazer mais coisas por você, e menos por mim
E em silêncio eu fui. Queria saber exatamente o que ela queria ouvir naquele momento, um “Eu te amo” parecia patético demais, naquela situação. Todo o tempo do mundo pareceu pouco agora, quando tudo acaba, a gente perde a hora. Eu fumei um maço inteiro, procurando uma resposta, enquanto ia pra casa. Ela manchou meu mundo imaginário com água e papel crepom. Onde é que eu moro, afinal? Com as pernas bambas, fui cambaleando, pela rua a fora. E ainda que tudo estivesse mal, a ideia de que ela não fosse me ligar, não me passou pela cabeça. Amanhã tudo se acerta. Não foi a primeira, nem a última vez que ela surta, ela é uma maluca. E eu dei um sorriso meia boca, enquanto chutava uma pedra no caminho. Na pior das hipóteses, se tudo der errado, eu taco fogo no presente que comprei pra ela de natal.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013