Eu não quero dizer nada, mesmo que talvez eu precise, eu não
quero, eu não quero. Eu cansei, eu cansei, eu não sei. Eu queria chorar, mas
não consigo, eu não consigo. Eu queria te esquecer, mas esse tentar agora
parece tempo perdido. Então eu sei, sabe? Eu sei que vai morrer. Eu sei que um
dia eu vou acordar e você não vai mais significar nada, nada do que foi um dia –
tudo, no caso. Enfim. E ai? Acaba ai? É o fim? Eu não entendo, eu gostaria de
entender, o que você anda fazendo. Eu estou vendo, estou acompanhando, mesmo
não sabendo, não sabendo da real pretensão. É que eu demorei tanto tempo pra
acreditar de verdade nisso tudo, que droga, nossa, é uma droga isso. É uma puta
de uma droga infernal estar dentro de mim quando acontece isso. Superar é uma
coisa cansativa, eu já não aguento mais recomeçar e recomeçar e tentar mais uma
vez. Quem sabe se eu mudar aquele móvel de lugar, ou me tele transportar,
arrumar a cama, dormir na sala de estar, me desconectar, trocar o meu café por
chá, ir à praia passear, sentar na areia e olhar o mar, largar de beber, deixar
de fumar, aprender a navegar, deixar o som me levar, dormir sem pretensão de
sonhar, sorrir sem chorar, aplaudir o palhaço, tornar-me dura, feito aço por
dentro, por fora, de fora pra dentro, de dentro pra dentro. Se eu parar de
querer você toda hora sem querer, e só flutuar, uma frase de autoajuda tatuar
na frente da alma. Quem sabe se eu for com calma, e tentar ser mais doce, sem
drama, sem foice. Sem te atingir, sem me redimir, sem te implorar. Mas eu não
quero dizer nada, nem supor, nem imaginar. Mesmo sabendo que não estou onde eu
deveria estar. Acredito que qualquer lugar parece ser melhor do que aquele que
eu já sei de cor. Solidão tenha compaixão de mim. Coração, eu não acredito que
você seja tão ruim. Cansei de acreditar que o problema todo sou eu. O recomeço no
começo é totalmente teatral.
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