domingo, 8 de julho de 2012

Frederico Lobato


Meu caro Cara, eu sinto sua falta. Já faz quase três meses que você dormiu pra nunca mais acordar, eu tenho um sério problema com o tempo, você sabe disso tão bem quanto Odette e o narrador de Yasmin. Tudo no fundo sou eu, na verdade, me sinto parte de tudo. Nada original, eu sou um amontoado de coisas. Cara, sem você eu me sinto só, mais só do que antes, do que o que veio no meio e do que o que veio depois. Sabe? É que agora só dormimos eu e o Chapéu, na minha cama, e você sabe, ele é calado demais, sempre parado. Poxa Cara, achei que nossa relação fosse durar mais, mas eu não me esqueci de ti, nem sei se isso é possível, estamos ligados por um elo. Você foi o meu primeiro caso de amor intenso, meu primeiro filho, meu primeiro casamento. Engraçado, eu te tive tantas vezes em meus braços, mas agora parando pra pensar, penso que poderia ter te segurado mais, na verdade isso não é engraçado. Vi uma foto sua agora, meio sem querer, e me lembrei do dia em que cheguei da faculdade e te vi deitado, morto. Meu querido te garanto que chorei bem mais que agora, naquele momento. Não se alarme você sabe toda a desenvoltura que tenho na hora de chorar desenfreadamente, não faço pra competir, o pranto apenas saí. Tenho tentado segurar isso, Cara. Eu sei, eu deveria ter te escrito antes. Mas saiba que isso não quer dizer que não tenho pensado em ti, nem nada do tipo. É que fiquei com medo, é eu ainda sou medrosa, eu ainda sou criança, meu pequeno. Amado, eu tenho tanta coisa pra te contar, eu queria tanto que você estivesse aqui agora, pra dormir comigo, porque já passou da hora de dormir. Se você estivesse aqui acharia seu espaço na cama, sem pedir licença. Eu queria ler trechos de um livro muito interessante pra você, e te contar sobre alguém, relacionar assuntos, e te cantar novas canções. Estou com tentando escrever uma música nova, mas não tenho conseguido, deve ser porque falta o desabafo, sabe. Parece que estou a um passo de alçar voo outra vez, se é que já não alcei, sem perceber. A percepção não é um dom que trago em abundancia. É, Carinha, eu sinto muito a sua falta, eu sinto muito por não ter feito mais por ti. Você conheceu um lado meu que ninguém mais viu.

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