Yasmin, eu estou te
escrevendo coisas que não vou mandar. Fazer isso me fez lembrar de todas as
paixonites que já senti e não contei. É engraçado que com o tempo a gente não aprende a
amar, mas acaba rindo bastante das besteiras que já fez por “amor”. Eu desde
sempre fui um amante inconsequente, sempre acabo me atropelando em diversas
situações. Creio eu, que por dois motivos principais: primeiro não sei me
expressar de maneira coesa, segundo quando não me entrego mais que o
necessário, simplesmente não me entrego. Me condene, Yasmin, se achar necessário.
É divertido escrever coisas e não mandar, um dia desses, pensando bem, já faz
algum tempo, revirando antigos papéis, encontrei uma carta que escrevi pra uma
professora na 5º série, em que eu declarava meu eterno e incondicional amor.
Engraçado, hilário, na verdade, quantas vezes a gente acha que algo vai durar
pra sempre, ou melhor, que vai durar bem mais do que dura. Yasmin, com você
quero fazer diferente, que não seja eterno, nem enquanto dure, nem em momento
algum. Porque a eternidade já me traiu vezes demais, quero que a eternidade
permaneça onde está: distante e indiferente a minha insignificante pessoa.
Estou cansado de lidar com planos incabíveis e expectativas injustas. Yasmin,
eu não espero nada de você, nada além do que tudo o que posso esperar. Que é o
mesmo que nada. Você não tem a menor obrigação de me amar, nem de me dar nada
em troca, mas mesmo assim eu gostaria que amasse, gostaria que desse. É
inevitável esperar, Yasmin. Eu acho, pelo menos. Sempre estou à espera de
algo, ou alguém, e nem sempre chega, na verdade, quase nunca chega. Mas a gente
tem que se acostumar com as coisas que não tem, com as coisas que queremos
muito, e ainda assim não conseguimos conquistar. Mas é difícil, a teoria na
pratica é um mar de ilusão. Parece estar na moda “ligar o foda-se”, mas as
coisas não são bem assim. Yasmin, sempre que te vejo com Tiago, inicialmente
sinto meu coração em pedaços. Mas algo me diz que as coisas deveriam ser
diferentes, que o que ele te dá é bem menos do que você precisa. Yasmin, se eu
pudesse, faria diferente e te mostraria coisas que nem eu sei que existem.
Seria como redescobrir tudo aquilo que já foi descoberto. Sei que parece
besteira, Yasmin, mas eu imagino tantas coisas. E isso é injusto, sabe. Você
faz com que eu traia todas as minhas torias, arrebenta todas as minhas
barreiras, me faz parecer o menino da 5º série que vive um platônico não correspondido.
Mas por que quando te olhos nos olhos sinto que você sente o mesmo? Tudo o que
você vive parece um grande teatro, Yasmin, onde você não é o papel principal,
não é quem escreve, nem quem dirige. Então, fico sempre a me perguntar o que
você pretende com isso? E eu, estando tão de fora da sua vida, tanto quanto
você mesma. Penso que talvez eu esteja na verdade dentro da parte de fora,
junto com você, mais próximo do que todas as coisas que fazem parte do seu
mundo. Talvez seja por isso que o nosso silêncio faça mais sentido do que a
programação da TV aberta às 22h de segunda a segunda, mesmo que ninguém
acompanhe. A gente se acompanha, a gente apanha, a gente se apanha pensando um
no outro sem parar, com horas iguais no relógio e mensagens que não são
enviadas via celular. A gente se encontra por telepatia, pensando um no outro
de noite, de dia. Ou pode ser só eu, talvez seja só eu imaginando sem parar,
como sempre, sem pensar que fora da minha cabeça o mundo é outro, que dentro do
seu diário pode não ser eu o tal "alguém" que você vive a citar. Yasmin, eu te escrevo
mil coisas sem enviar, por medo. Porque pra ganhar, a gente tem que estar disposto
a perder. E eu não sei qual ideia me faz penar mais, a de te encontrar em uma
carta perdida no meio dos meus antigos papéis, ou a de não mais te encontrar em lugar nenhum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário