Você já conseguiu chorar de olhos fechados, Iully? Com sua
música preferida tocando sem parar, embalando sua mais nova derrota. Às vezes
fico me perguntando por que o autoconhecimento é tão doloroso. “Conheça-te a ti
mesmo”, alguém disse em algum lugar. Eu ando gaguejando demais. Eu nunca chorei
com os olhos fechados, eu nunca chorei em diversas situações, em que eu deveria
ter chorado. Isso não faz de mim alguém mais forte, isso não me faz melhor do
que ninguém. É como sua música favorita, você passa horas, dias, meses sem
lembrar o quanto ela te toca, até que ela toque em um auto falante qualquer.
Isso é chorar pra mim, todos os mundos do mundo desabando simultaneamente. Não
me lembrar de ter vivido aquilo antes de viver novamente. Lembrei de você
ontem, Iully, do que aconteceu com você. Eu cantei por você, em ritmo de festa,
sem me esquecer de toda a desgraça que nos rodeia. Fico te procurando às vezes,
nos lugares mais improváveis, nas pessoas mais questionáveis, em copos vazios,
em corpos cheios de tentação. Eu era um pecado, você era o próprio satã, nada
nos diferenciava. Toda aquela merda era como abstinência da vida, na própria
vida. Uma overdose de valores. Eu virei
careta, você se virou de qualquer maneira. Saindo do abismo, pulando no abismo.
Me pergunto ainda hoje, o que nos difere? Nada.
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