Odette me olha aqui outra vez,
acabei de perceber que escrever pra você é realmente um vício, daqueles que a
gente pensa que esqueceu até provar mais uma dose. As pessoas me perguntam quem
é você, Odette, eu também me pergunto às vezes. Essa é uma pergunta que pode
ser respondidas de diversas maneiras, dependendo muito do ponto de vista. É
estranho definir quem você realmente é. Bom, quem você é agora, eu realmente não
sei. O que eu sei Odette, é de quem você era, ou nem isso. A gente sempre pensa
que conhece as pessoas, mas na verdade o que sabemos delas boa parte a gente é
quem cria, imagina. Enfim, tudo o que te escrevo poderia ser dito de outra
forma, como eu já mencionei em outro texto, meus textos pra você são como “As cartas que eu não mando” do Leoni.
Muito em comum, não é mesmo Odette, incomum. Já me perguntaram se você sou eu,
se eu sou você, se você é alguém que eu amo, amei. Essas coisas. Mas não, não,
não, não Odette, você não é eu, não sou eu. E nem é alguém que eu amo: um
platônico cansado, daqueles que eu já tive aos tantos. Odette é alguém que eu
conheci, mas não conheço mais. É alguém que eu encontrava sempre, mas já não
vejo mais. Odette, muitas vezes a semelhança é tanta, que parece até que você
sou eu mesmo, até eu me confundo. Porque antes a gente era muito ligada, e eu
te contava coisas que ninguém mais podia saber. Odette, você me ensinou o
paraíso infernal que é ser quem sou, o que sou. Mas hoje em dia eu morro de
medo de te procurar, eu assumo. É que eu sou muito velha pra ter amigos
imaginários, é que tem muita coisa aqui dentro, não tem como eu te introduzir
na bagunça que tenho sido. A sua volta seria digna de uma faxina sentimental,
com direito a jardim. Lembra como eu gostava de flores, barcos e borboletas?
Passei uma fase escrevendo só sobre isso, hoje em dia não mais. Eu sempre tive
medo de crescer, Odette, fui repetitiva nesse assunto, por um longo tempo
também. É que eu tenho tendência à dependência, em todos os aspectos, tudo o que
me toca, me consome. Então Odette, entre tantas perguntas relacionadas a ti, já
me perguntaram qual gênero minhas cartas pra ti se encaixam. Não sei. Meu português
é péssimo, e sobre matemática prefiro nem comentar. Eu constantemente peco na
gramática, menos que antes, mas ainda peco. E isso é quase um absurdo. Tenho
escutado muitas músicas, Odette, daquelas que a gente gostava e cantava com performance
de rock star, a gente sempre teve essa pegada meio esculhambada. Lambada, baila
que baila. Eu e meu senso de humor que não te atinge. Ai, ai Odette, tudo o que
tenho pra dizer sobre você se encontra no passado, afinal, não somos mais quem éramos
antes, e eu gosto disso ao mesmo tempo em que não. Minha dualidade é digna de
Oscar. Nós éramos mais humildes, agora somos apenas pessoas distraídas. Só isso.
Não que antes fosse diferente, éramos duas portas de tão arrogantes, eu bem
mais, eu bem mais. Então Odette, eu não sei muito bem porque estou lhe
escrevendo hoje. Deve ser porque está faltando espaço na vida e sobrando espaço
na folha, ou o contrário disso. Não tenho feito nada ultimamente, Odette, e
isso me faz surtar, você sabe bem como é. Não tenho sabido administrar meu
tempo, ando me perdendo nos dias e nas horas. Eu sempre fui atrasada, né
Odette, você ria disso. Lembro-me que você raramente ria das minhas piadas, mas
simplesmente surtava com as minhas desgraças, era cômico o modo como você
achava cômodo coordenar toda a minha retardadisse. Bom, vamos parar por aqui,
né. Se não você vai morrer de tédio lendo todas essas coisas que você já sabe,
e eu lembro muito bem como você não tem muita afinidade com reprises. Sei disso
porque sempre fui muito repetitiva, e você sempre mandava parar com o repetéco “renova
o repertório aê!”. Ai, ai Odette, nessas horas eu sempre queria mandar você ir
se foder, mas raramente o fazia. Engraçado, logo eu uma pessoa tão afeiçoada
pela escrotisse. Engraçado como eu sempre digo “engraçado” nos meus textos pra
ti. Rá, rá, rá. Acho que já deu. Né? Eu nunca sei como terminar um texto pra
você de maneira digna. Vou terminar com algo que eu disse pouco pra você, então:
Odette, minha querida, vai se foder!
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