domingo, 15 de julho de 2012

Rá, rá, rá Odette


Odette me olha aqui outra vez, acabei de perceber que escrever pra você é realmente um vício, daqueles que a gente pensa que esqueceu até provar mais uma dose. As pessoas me perguntam quem é você, Odette, eu também me pergunto às vezes. Essa é uma pergunta que pode ser respondidas de diversas maneiras, dependendo muito do ponto de vista. É estranho definir quem você realmente é. Bom, quem você é agora, eu realmente não sei. O que eu sei Odette, é de quem você era, ou nem isso. A gente sempre pensa que conhece as pessoas, mas na verdade o que sabemos delas boa parte a gente é quem cria, imagina. Enfim, tudo o que te escrevo poderia ser dito de outra forma, como eu já mencionei em outro texto, meus textos pra você são como “As cartas que eu não mando” do Leoni. Muito em comum, não é mesmo Odette, incomum. Já me perguntaram se você sou eu, se eu sou você, se você é alguém que eu amo, amei. Essas coisas. Mas não, não, não, não Odette, você não é eu, não sou eu. E nem é alguém que eu amo: um platônico cansado, daqueles que eu já tive aos tantos. Odette é alguém que eu conheci, mas não conheço mais. É alguém que eu encontrava sempre, mas já não vejo mais. Odette, muitas vezes a semelhança é tanta, que parece até que você sou eu mesmo, até eu me confundo. Porque antes a gente era muito ligada, e eu te contava coisas que ninguém mais podia saber. Odette, você me ensinou o paraíso infernal que é ser quem sou, o que sou. Mas hoje em dia eu morro de medo de te procurar, eu assumo. É que eu sou muito velha pra ter amigos imaginários, é que tem muita coisa aqui dentro, não tem como eu te introduzir na bagunça que tenho sido. A sua volta seria digna de uma faxina sentimental, com direito a jardim. Lembra como eu gostava de flores, barcos e borboletas? Passei uma fase escrevendo só sobre isso, hoje em dia não mais. Eu sempre tive medo de crescer, Odette, fui repetitiva nesse assunto, por um longo tempo também. É que eu tenho tendência à dependência, em todos os aspectos, tudo o que me toca, me consome. Então Odette, entre tantas perguntas relacionadas a ti, já me perguntaram qual gênero minhas cartas pra ti se encaixam. Não sei. Meu português é péssimo, e sobre matemática prefiro nem comentar. Eu constantemente peco na gramática, menos que antes, mas ainda peco. E isso é quase um absurdo. Tenho escutado muitas músicas, Odette, daquelas que a gente gostava e cantava com performance de rock star, a gente sempre teve essa pegada meio esculhambada. Lambada, baila que baila. Eu e meu senso de humor que não te atinge. Ai, ai Odette, tudo o que tenho pra dizer sobre você se encontra no passado, afinal, não somos mais quem éramos antes, e eu gosto disso ao mesmo tempo em que não. Minha dualidade é digna de Oscar. Nós éramos mais humildes, agora somos apenas pessoas distraídas. Só isso. Não que antes fosse diferente, éramos duas portas de tão arrogantes, eu bem mais, eu bem mais. Então Odette, eu não sei muito bem porque estou lhe escrevendo hoje. Deve ser porque está faltando espaço na vida e sobrando espaço na folha, ou o contrário disso. Não tenho feito nada ultimamente, Odette, e isso me faz surtar, você sabe bem como é. Não tenho sabido administrar meu tempo, ando me perdendo nos dias e nas horas. Eu sempre fui atrasada, né Odette, você ria disso. Lembro-me que você raramente ria das minhas piadas, mas simplesmente surtava com as minhas desgraças, era cômico o modo como você achava cômodo coordenar toda a minha retardadisse. Bom, vamos parar por aqui, né. Se não você vai morrer de tédio lendo todas essas coisas que você já sabe, e eu lembro muito bem como você não tem muita afinidade com reprises. Sei disso porque sempre fui muito repetitiva, e você sempre mandava parar com o repetéco “renova o repertório aê!”. Ai, ai Odette, nessas horas eu sempre queria mandar você ir se foder, mas raramente o fazia. Engraçado, logo eu uma pessoa tão afeiçoada pela escrotisse. Engraçado como eu sempre digo “engraçado” nos meus textos pra ti. Rá, rá, rá. Acho que já deu. Né? Eu nunca sei como terminar um texto pra você de maneira digna. Vou terminar com algo que eu disse pouco pra você, então: Odette, minha querida, vai se foder!

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