Eu
me perdi da inspiração, eu a mandei comprar cigarros, e ela nunca mais
voltou. Pensei que eu nunca desistiria do amor, mas não me vejo mais
tentando.
Existe uma quantidade assustadora de coisas que eu não consigo
entender, mas se eu não vejo mais você, o desentendimento deveria ser a
menor questão. Ainda guardo uma foto antiga sua, em algum lugar que não me lembro, é
como um infarto esperando para ser fulminado. Você sempre falava dos
planos, a gente morria de rir com toda aquela porcaria. Acho
desnecessário externalizar
algumas coisas, e valido eternizar outras, como por exemplo a sua
risada, o seu tom de voz, o modo inapropriado com o qual você usava as
pessoas. Às vezes me questiono, quem sou eu para te julgar, talvez tenha
sido esse o nosso grande ponto de encontro, o pecar. Não posso viver
para te evitar, não posso viver para ti, mesmo sem saber para que viver.
Minha tendência suicida, toda minha melancolia barata. Agora pareço ser
outra pessoa, assim como você. Tudo pode ser apenas uma questão de
ponto de vista, ou ausência de vírgula. Sua exatidão, suas certezas,
suas filosofias roubadas. Apesar dos pesares, dos penares, de toda essa
merda, ainda me fazem pensar. Eu sinto falta dos seus talentos, e
deslizes. Pensando em nós, me sinto idiota, me sento sobre a hipocrisia
que é te lembrar. Tem que existir um lugar para mim, em minha vida. Tem
que haver um lugar onde eu possa fechar os olhos e sentir a paz da
minha companhia. Eu te mandei comprar cigarros, e você se vendeu para o
mundo. Eu quis ser livre, você quis se engradar, deixando sem duas vezes
pensar, de me agradar. Somos pessoas diferentes, desde sempre, nunca
fomos iguais. Sophia, eu não encontrei ninguém melhor do que você, e isso
não quer dizer que você seja tão especial assim. O problema pode estar no meu péssimo gosto para escolher, nos lugares que
insisto em frequentar, nos cigarros que não paro de ascender e apagar,
nas promessas que fiz e que não paro de lembrar. Mas o que eu posso
fazer, se não te tenho na minha vida, nem na minha TV. Bater,
entrar, chegar mais cedo mais uma vez, de nada vai adiantar. "Vai rezar
para esquecer, vai pedir para esquecer. Mas eu não vou deixar, eu não
vou deixar". E não deixou.
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